Entrevista com Freud*: sobre a Felicidade sempre Insuficiente
Entrevistadora: Seguimos um caminho de acordo com nosso desejo?
Freud: o objetivo para o qual o princípio do prazer nos impele — o de
nos tornarmos felizes — não é atingível; contudo, não podemos — ou melhor, não
temos o direito — de desistir do esforço da sua realização de uma maneira ou de
outra.
Entrevistadora: Por que ao evitarmos algo indesejável, muitas vezes,
acabamos por repeti-lo?
Freud: caminhos muito diferentes podem ser seguidos para isso;
alguns dedicam-se ao aspecto positivo do objetivo, o atingir do prazer; outros
o negativo, o evitar da dor. Por nenhum destes caminhos conseguimos
atingir tudo o que desejamos.
Entrevistadora: E se escolhermos um caminho muito diferente do
"socialmente aceitável"?
Freud: Naquele sentido modificado em que vimos que era atingível, a
felicidade é um problema de gestão da libido em cada indivíduo. Não há uma
receita soberana nesta matéria que sirva para todos; cada um deve descobrir por
si qual o método através do qual poderá alcançar a felicidade.
Entrevistadora: Então, nossas escolhas...
Freud: toda a espécie de fatores irá influenciar a sua escolha. Depende
da quantidade de satisfação real que ele irá encontrar no mundo externo, e até
onde acha necessário tornar-se independente dele. Por fim, na confiança que tem
em si próprio do seu poder de modificar conforme os seus desejos. Mesmo nesta
fase, a constituição mental do indivíduo tem um papel decisivo, para além de
quaisquer considerações externas.
Entrevistadora: decidimos cada passo de nossa caminhada, independente das
pedras que encontramos no caminho...
Freud: o homem que é predominantemente erótico irá escolher em primeiro
lugar relações emocionais com os outros; o tipo narcisista, que é mais
auto-suficiente, procurará a sua satisfação essencial no trabalho interior da
sua alma; o homem de ação nunca abandonará o mundo externo no qual pode
experimentar o seu poder.
Entrevistadora: Obrigada, Dr. Freud.
* Entrevista ficcional baseada em "A Civilização e os Seus
Descontentamentos", Freud, 1930.
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