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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Adolescência: sinais, caracteres, marcas, nome...


   A adolescência passou a ser estudada em seus vários aspectos sob o ponto de vista psicológico no século XX e, o primeiro estudo publicado sobre esta fase da vida aconteceu em 1904, quando Stanley Hall, psicólogo americano, enfatizou o entendimento da adolescência como amadurecimento biológico e descreveu a vida emotiva dos adolescentes como oscilantes e com tendências contraditórias. Outeiral (1984)  definiu a puberdade como “um processo biológico que inicia entre nove e 14 anos e se caracteriza pelo surgimento de uma atividade hormonal que desencadeia os chamados caracteres sexuais secundários”, diferente da adolescência que para o autor é “basicamente um fenômeno psicológico e social”.
            A adolescência pode ser também considerada como um período de transição da infância para a fase adulta, situação na qual novos ajustamentos e as mudanças fisiológicas e psicológicas surgem e demarcam uma sucessão de instabilidades necessárias para que o adolescente estabeleça sua identidade, sendo o objetivo fundamental deste momento da vida (ABERASTURY & KNOBEL, 1981).
      O adolescente e o impacto visual: utilizam muitos acessórios, bijuterias, roupas “transadas”, bonés e piercing

As vestes, concebidas como extensões ou prolongamentos do próprio corpo, adquirem para o adolescente um significado todo peculiar. “Já que não posso alterar meu corpo, com o qual estou descontente, modifico minha roupa”, dizia-me certa vez um adolescente. Mas as vestimentas, assim como os adornos e adereços usados pelos adolescentes, bem como o modo de cortar ou (des) pentear os cabelos, podem igualmente servir de código para expressar uma identidade tribal (OSORIO, 1989).

            Os adolescentes são igualmente ousados na gestualidade: dançam, saltam e fazem piruetas. A performance também faz parte desse processo de reorganização da identidade, como uma forma que o adolescente encontra de mostrar seu corpo e suas habilidades.  A constante utilização de apelidos, segundo Oliveira (2004), é um “sinal distintivo” do adolescente que o coloca como membro ativo, participante de um todo grupal: forma de como o grupo insere o adolescente numa identidade coletiva e ao mesmo tempo, deste se inserir e ser aceito no grupo.

Essa uniformidade é o que proporcionaria a segurança e estima pessoal, há um processo de identificação de massa, onde todos se identificam com cada um. O adolescente não pode separar-se da turma nem de seus caprichos ou modas. Por isso, inclina-se às regras do grupo, em relação à moda, vestimentas, costumes, preferências de todos os tipos, etc (ABERASTURY & KNOBEL, 1981).

     O líder se destaca por ser arrojado, colocando-se sempre como superior e dirigindo os demais. No processo grupal, assim como em toda sociedade, há um sistema de hierarquia: haverá sempre alguém que se encarregará de dar o modelo: um líder, herói ou figura de identificação com certo status e poder.
      A divisão de status geralmente segue um ritual onde a auto-afirmação individual é bem marcada no grupo: O mais forte bate no mais fraco consolidando através da agressão sua imagem onipotente, rito de admissão ao grupo. Esse comportamento é também uma válvula de escape dos adolescentes, uma das funções dos rituais de passagem, segundo alguns autores como Van Gennep (RIVIÉRE, 1996).
            Esse procedimento pode confirmar a hipótese de que atitudes anti-sociais ou associais são reforçadas pelo grupo. Unidos contra os “inimigos” eles buscam no grupo a cumplicidade para seus comportamentos e os laços de amizade. No grupo eles têm forças para enfrentar tudo e todos, de acordo com Freud (1989) “o sujeito abandona seu ideal do eu e o substitui pelo ideal do grupo, tal como é corporificado no líder.”
            A queixa maior dos adultos é a indisciplina: ter limites, de saber o que é proibido e o que é permitido para se orientar no mundo é uma construção em continuum na esfera social, através da lei que lhe assegura uma referência na qual ele poderá estabelecer uma escala de valores ou código de ética próprio.
         A  atitude social reivindicatória, presente na adolescência, Aberastury & Knobel (1981) considera fundamental para o desenvolvimento evolutivo do indivíduo, como uma “cristalização na ação do que já ocorreu no pensamento”. Essa agressividade exteriorizada é um aspecto muito comum do adolescente, pois se num primeiro momento (infância) as coisas só adquirem sentido através da palavra: eu tenho um nome, portanto significo algo para o outro; na adolescência, o jovem utiliza também a linguagem como um instrumento de auto-afirmação, dependendo de como ele fala, aponta sua posição no mundo. As respostas ásperas, porém incisivas e pontuais, demonstram sua capacidade de sublimar-se diante da suposta inferioridade que a sociedade lhe impõe.
         As pichações constantes em paredes, muros, portas de banheiros e carteiras escolares também são formas encontradas pelo adolescente para “deixar a sua marca, inscrever seu nome e demarcar um território que ele simbolicamente domina”, que segundo RITO (1993), difere da agressão que é praticado com o fim de ferir ou prejudicar alguém.
         O adolescente tanto pode nos assombrar quanto nos arrebatar na medida em que aceitamos a sua condição de sofrimento por não perceber ainda seu lugar no mundo e que resiste a todo esse processo através de suas demandas lúdicas e irônicas. 

ABERASTURY, Arminda & KNOBEL, Maurício. Adolescência normal: Um enfoque psicanalítico. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981.
OLIVEIRA, S. J. Brasil: um país onde a adoção de apelido tem um privilégio legal inexistente ao prenome. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 219, 11 fev. 2004. 
FREUD, Sigmund.  Psicologia de grupo e a análise do ego. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 18). Rio de Janeiro: Imago, 1989.
OSORIO, L.C. Adolescente Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
OUTEIRAL, J.O. Adolescer: estudos sobre adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.
RITO, L. Adolescência: um lance que rola. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
RIVIÉRE, C. Os ritos profanos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

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