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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Moral e Ética por Yves de La Taille


Yves de La Taille nasceu na França, mas, desde criança, vive no Brasil. É professor de Psicologia do Desenvolvimento Moral na USP. É co-autor dos livros Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias Psicogenéticas em Discussão, Indisciplina na Escola (Summus Editorial) e Cinco Estudos de Educação Moral (Casa do Psicólogo) e autor, entre outros, de Limites: Três Dimensões Educacionais (editora Ática). 

La Taille Investiga o desenvolvimento moral desde a década de 80 e é um dos especialistas mais respeitados do país nessa área.

Segundo ele, a crise moral e ética atinge tanto a escola quanto as famílias, e uma empurra a responsabilidade da educação das crianças para a outra. “Muitos professores acusam os pais de não darem, por exemplo, limites a seus filhos, e muitos pais acusam a escola de não ter autoridade e de não impor a disciplina”, porém La Taille completa que tanto uma quanto a outra têm grande responsabilidade no desenvolvimento moral e ético das crianças.

O que La Taille diz sobre moral e ética: 

Moral é o conjunto de deveres derivados da necessidade de respeitar as pessoas, nos seus direitos e na sua dignidade. Logo, a moral pertence à dimensão da obrigatoriedade, da restrição de liberdade, e a pergunta que a resume é: “Como devo agir?”. 

Ética é a reflexão sobre a felicidade e sua busca, a procura de viver uma vida significativa, uma “boa vida”. Assim definida, a pergunta que a resume é: “Que vida quero viver?”. É importante atentar para o fato de essa pergunta implicar outra: “Quem eu quero ser?”. Do ponto de vista psicológico, moral e ética, assim definidas, são complementares.

Para saber mais sobre o assunto, assista estes excelente vídeos:





terça-feira, 25 de setembro de 2012

De Justin Bieber à Pixinguinha (e não o contrário)



Todos os dias é a mesma rotina, ligar o computador para ver as news: uma sucessão de cliques no msn, facebook, twitter, badoo, orkut, youtube e, é claro (nem tim, nem oi) nos blogs do momento!

Vivemos a Cibercultura, uma relação sociocultural de trocas entre sociedade, cultura e as novas tecnologias. Precisamos nos comunicar, interagir e tomar a máxima "sem conhecimentos básicos de informática, considere-se um analfabeto" (apesar disso não ser mais um problema!) como  condição de sobrevivência!

Porém, não exageremos! Já obtive uma prova das minhas convicções que o superado, o antigo sempre vai ter seu lugar e seu momento sublime de nos fazer sentir "menos" antigos e superados!

Minha filha, fã número um do Justin Bieber, quis ouvir na rádio uol a música "carinhoso". Procuramos e ela ouviu várias versões, desde Marisa Monte até um remix estilo bate estaca! Até que achamos a versão original com Pixinguinha. 
A grande surpresa foi que esta garotinha, ao final, comenta: "Prefiro com o Pixinguinha! é bem mais bonito, né mamãe?" Concordei emocionada. Sou fã desta geração!
Eu blogo, tu blogas? 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

HOJE PENSEI EM HILDA


Que eu te devolva a fome do meu primeiro grito 

No folder de seu show "Fôlego", Filipe Catto incluiu um poema de Hilda Hilst, 

Isso de mim que anseia despedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso
É tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo. Como quem come o que nada contém.
A impossível oquidão de um ovo.
Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente.
Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.
Como pode isso?
Ser tenro, marulhoso
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.
(Canto III, Cantares do Sem Nome e de Partidas)

        Isto me fez pensar nela. Escritora, poetisa, dramaturga, autora de muitas obras, entre elas uma trilogia erótica: O caderno Rosa de Lori Lamby, Contos grotescos/ Textos de escárnio e Cartas de um sedutor; a novela Rútilo Nada e o volume de poemas Cantares do Sem Nome e de Partidas. O texto denso e metafórico Estar Sendo/ Ter Sido e Do amor, obra que reúniu 77 poemas, os quais dedicou a seu pai, o poeta Apolônio de Almeida Prado Hilst.

Hilda dedicava seu tempo a ler, principalmente obras sobre física, na sua incansável busca de uma possível imortalidade do ser humano. Sem nunca ter tido medo de ser considerada “louca”, Hilda se deu ao direito de dizer o que bem entendia.

Hilda falava de seus personagens como se fossem reais: Vittorio, personagem da obra Estar Sendo/ Ter Sido, era um ser que “pensa desesperadamente”, com vida própria e revelou que após ter lido o livro pela segunda vez, descobriu fatos não percebidos antes: o seu cinismo em pagar Alessandro, um filho bastardo, para ficar com sua própria mulher. Essa atitude de Vittorio, para Hilda, nada mais era o fato de Vittorio querer “se pensar”: pensar não é agir, mas quem pensa, faz uma ação tripla. É um grande esforço. Hilda encontrou em James Ward a frase que caberia bem com o personagem de Vittorio: “Denken ist schwer” (pensar é difícil), fez uma relação do pensar com agradecer, “denken” (pensar) e “danken” (agradecer), similaridade notado por ela entre o alemão e inglês. Uma forma pensante de agradecer.

A obra Estar Sendo/ Ter sido, altamente alegórica nas cores usadas pela autora: o amarelo e as cores que derivam dele: o amarelo da cor da pele, das pessoas mortas, das máscaras que os atores do teatro de Pequim usam para simbolizar o cinismo e a dissimulação. Vittorio é muito dissimulado, completou Hilda.
Hilda revelou que não lembrava como iniciava suas obras. Escrevia apenas, e os personagens surgiam, havia então um interesse por eles. Havia espanto e descoberta.

O que há em comum entre os personagens e Hilda? Não se declaram totalmente. Falam nos grandes silêncios. 

Vittorio é um suicida em potencial. Isso é pensado o tempo todo, porém não é visível para o leitor comum. É o pensar e a necessidade de agir. Em dado momento ele se revela como poeta e daí surge outra figura: Pedro Cyr. Hilda diz “Ele tem um poema esquisito, uma coisa diferente, veio de repente esse cara!” 
Os personagens de Hilda foram muito presentes em sua na vida. Convivendo ou aparecendo de repente. Vittorio, por exemplo, Hilda gostou de conhecê-lo, o seu deboche, seu cinismo, do tipo que ri de si mesmo, dizia ela.

Hilda, personagem de sua própria vida, sonhou transformar sua casa numa fundação de estudos psíquicos de imortalidade, após ter lido o livro de Sônia Rinaldi Transcomunicação Instrumental, onde a autora mostra mensagens recebidas por fax de pessoas de outro planeta. Esse lugar seria Marduk, que quer dizer sol. Hilda se entusiasmou com a possibilidade da comunicação via telefone, antes realizadas pelas ondas do rádio, com as pessoas que estavam lá em Marduk: Júlio Verne, Einstein e Paracelso. A própria Hilda foi pioneira, ao gravar vozes vindas do além.

Cercada por muitas árvores, livros e seus sessenta cachorros, Hilda teve uma vida ímpar: sua surpreendente trajetória filosófica, onde seus personagens tinham vida própria, sua linguagem visceral e instigante em contraste com seu senso de humor e simplicidade ao revelar-se telespectadora assídua da novela das seis.

Suas obras, definidas por Hilda como “umasómúltiplamatéria” foram escritas compulsivamente: “você não sabe dizer exatamente por quê. Mas tem necessidade de comunicar aquilo para o outro, de alguma maneira. Quem sabe se é o que eu também digo, escrevendo: pertencer, caber – fazer parte de.” 

Hilda imortal partiu em 2004 numa nave. 

Nave Ave Moinho 
E tudo mais serei 
Para que seja leve 
Meu passo 
Em vosso caminho 
Hilda.

Adoro Hilda e,
Adoração de
Filipe Catto.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Saudade

A medida da vida não é a sua duração, mas sim a sua doação (Peter Marshal). 


Minha tia era assim, a doação em pessoa: doava sorrisos, alegrias, conversas, bons exemplos, abraços e muitas outras boas coisas...Saudades de você, tia Erni...

Esta música é para ti, que já está alegrando os anjos lá do céu.


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

FREUD E A ARTE


Como já descobrimos há muito tempo, a arte oferece satisfações substitutivas para as mais antigas e mais profundamente sentidas renúncias culturais, e, por esse motivo, ela serve, como nenhuma outra coisa, para reconciliar o homem com os sacrifícios que tem de fazer em benefício da civilização.

Por outro lado, as criações da arte elevam seus sentimentos de identificação, de que toda unidade cultural carece tanto, proporcionando uma ocasião para a partilha de experiências emocionais altamente valorizadas. 
E quando essas criações retratam as realizações de sua cultura específica e lhe trazem à mente os ideais dela de maneira impressiva, contribuem também para sua satisfação narcísica (FREUD, O futuro de uma ilusão, 1927).

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Loucos e santos (Oscar Wilde)


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. 
Deles não quero resposta, quero meu avesso.



Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.




Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!


Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Um brinde aos amigos ! (estes loucos e santos)

terça-feira, 31 de julho de 2012

O amor...



Para Freud o primeiro objeto de amor de todo ser humano é a mãe. Nas palavras de Lacan, é o seio da mãe que “fura a boca do bebê e inaugura sua falta”. Portanto, a partir deste amor primitivo é que se estabelece a constante repetição do ser humano em reencontrar este objeto, que será perdido pelos descaminhos da memória. 


E, isto ocorrerá de diferentes formas, incessantemente e de maneira muito particular para cada um.


No início da vida, geralmente a função materna, cuidar e suprir as necessidades do bebê, é exercida pela mãe. Por este motivo, não há separação entre mãe-bebê, pois acontece uma intensa identificação entre os dois. O bebê ocupa o lugar de falo imaginário do outro, e neste contexto o ego do bebê inicia sua formação.



Algum tempo depois, a criança percebe sua própria imagem refletida no espelho: um corpo inteiro, unificado, erotizado e ainda fortemente identificado com o outro. Esta experiência, o Estádio do Espelho (Lacan), estrutura a criança como sujeito, porém ainda sob o domínio do imaginário, pois sua estruturação psíquica somente se dará com o advento do simbólico, ou seja, com entrada do terceiro, o pai que permite a ruptura da alienação da criança ao desejo do outro (mãe). Deste modo que um vazio, a falta vai se instaurar.

O amor é a substituição de um objeto perdido e, o nome-do-pai instaura um significante, a falta representada em partes do corpo, porém não orgânico.




O amor que se caracteriza no plano imaginário é narcísico, pois o outro será o espelho que lhe reflete o amor investido. Na escolha do objeto amoroso, o sujeito elege um outro, segundo imagem do próprio eu. O sujeito não ama um outro, mas ama-se através dele, ou seja, o outro é o que ele é, ou que ele foi, ou o que ele quer ser ou ainda, que foi uma parte dele mesmo.



Já o amor entre analista e o sujeito analisado, o amor de transferência, é o amor da ordem das representações, ou seja, o amor do inconsciente (repetição do amor arcaico) investido no analista, substituto transitório do objeto perdido (falta) e, que pode ser substituído novamente e novamente por outros objetos de amor.


Enfim, os muitos amores advêm de um único, perdido, esquecido, recalcado...

terça-feira, 24 de julho de 2012

Coisas guardadas...




Rubem Alves escreveu que ama Gaston Bachelard pela sua erudição, simplicidade e poesia:
"A poética do espaço: esse é o título que deu a um dos seus livros. Poética do espaço? O espaço fica poético quando um homem o modela. Quem constrói uma casa faz um poema. Por isso enchemos as casas de plantas, de quadros, de música, de livros. E que dizer da poética das gavetas, dos cofres e armários? Ah! Quanta poesia as gavetas podem conter, especialmente aquelas que são trancadas à chave! "


Isto me fez pensar na poética de cada um: a maneira de cada um de guardar suas histórias, segredos, medos, traumas...Trancados à sete chaves! O divã também fica poético quando as palavras saem pouco a pouco: são as coisas, os fantasmas saindo em forma de sussurros, gritos, frases entrecortadas, poemas do inconsciente!
A poesia de cada um é liberada via transferência.


Assim como "o espaço fica poético quando um homem o modela."( Rubem Alves), o bem dizer fica poético quando uma escuta o libera!

domingo, 22 de julho de 2012

REHAB (eterna Amy)


Eles tentaram me mandar para a reabilitação, mas eu disse não, não, não
Sim, eu tenho estado mal mas quando eu melhorar você irá ver, ver, ver
Eu não tenho tempo e se meu pai acha que estou bem
Ele me fará ir para a reabilitação, mas eu não irei, irei, irei

Eu prefiro ficar em casa com Ray
Eu não tenho setenta dias
Porque não há nada
Nada que você possa me ensinar
Que eu não possa aprender com o Sr. Hathaway

Eu não aprendi muito nas aulas
mas sei que não aprenderei num trago de bebida

Eles tentaram me mandar para a reabilitação, mas eu disse ? não, não, não
Sim, eu tenho estado mal mas quando eu melhorar você irá ver, ver, ver
Eu não tenho tempo e se meu pai acha que estou bem
Ele me fará ir para a reabilitação, mas eu não irei, irei, irei

Um homem me disse : - por que você acha que está aqui?
Eu disse que não fazia idéia
Eu vou, vou perder meu amor
Então eu sempre tenho uma bebida por perto
Ele me disse: - eu acho que você está deprimida,
Me dê um beijo, baby, e vá dormir.

Eles tentaram me mandar para a reabilitação, mas eu disse ? não, não, não
Sim, eu tenho estado mal mas quando eu melhorar você irá ver, ver, ver

Eu não quero beber nunca mais
Eu só ooh eu só preciso de um amigo
Eu não irei perder dez semanas
Com todos achando que estou de recuperação.

Não é só meu orgulho
É só que minhas lágrimas secaram.

Eles tentaram me mandar para a reabilitação, mas eu disse ? não, não, não'
Sim, eu tenho estado mal mas quando eu melhorar você irá ver, ver, ver.
Eu não tenho tempo e se meu pai acha que estou bem
Ele me fará ir para a reabilitação, mas eu não irei, irei, irei.

Cuidado com o crocodilo!


Le crocodile à roulettes -  engole as crianças que infringem as regras.


Uma estória infantil que faz uma alusão à castração:

"Uma garotinha travessa pergunta incansavelmente à mãe se pode correr pelos mais inusitados lugares: desde o alto das montanhas até mesmo dentro cabeça da mãe!Esta diz sempre que sim, com exceção à saída da escola! _Por quê? Pergunta a irrequieta criança. _Por causa do "crocodile à roulettes", responde a mãe, pois ele engole crianças, se a criança corre na saída da escola vai direto à boca do crocodilo, que a devora, enfatiza a mãe!"

Esta situação ficcional marca uma interdição, a criança pode fazer muitas coisas, mas existe um limite, senão algo ruim pode acontecer: se a criança desobedece é engolido pelo crocodilo! Os contos de fadas marcaram fortemente o imaginário (também simbolicamente) este efeito devastador da desobediência infantil, Chapeuzinho Vermelho é um exemplo universal...

Chapeuzinho Vermelho prestes a ser devorada
por não cumprir as recomendações da mãe.


Pode-se, também, fazer uma analogia deste crocodilo devorador ao que Lacan descreveu como sendo o desejo da mãe:
Se a barra da função paterna (falo) não socorre a criança, ela é devorada pelo desejo da mãe. Lacan no Seminário 17, resume:
"O papel da mãe é o desejo da mãe. É capital. O desejo da mãe não é algo que se possa suportar assim, que lhes seja indiferente. (...) Um grande crocodilo em cuja boca vocês estão _ a mãe é isso. Não se sabe o que lhe pode dar na telha, de estalo fechar sua bocarra. O desejo da mãe é isso. (...) Há um rolo, de pedra, é claro, que lá está em potência, no nível da bocarra, e isso retém, isso emperra. É o que se chama falo. É o rolo que os põe a salvo se, de repente, aquilo se fecha".


A mãe que"devora" e ao mesmo tempo ratifica
o nome-do-pai que a impede de devorar.


Assim, quando a mãe da estória limita a criança, ela está sustentando a posição deste "rolo" que impede que a bocarra do crocodilo se feche e engula a criança!
Não é possível que as crianças façam tudo que querem, os limites devem ser colocados, assim como mecanismos para as regras serem respeitadas. Nesta estória "Le crocodile à roulettes", a mãe é fundamental para que isto ocorra, pois é ela que ratifica o nome-do-pai, o terceiro que barra, inclusive ela própria, a mãe de "devorar" a criança.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

É melhor ser alegre que ser triste, mas às vezes a tristeza é a melhor coisa que existe...





"Tem altos e baixos? Então, você é bipolar. É uma doença, mas não é grave, é como dor crônica, há pilulas para isto!” É o que se ouve com muita frequência de médicos e da população em geral. É senso comum. Nas novelas, os personagens são bipolares. É a nova tendência. Nova moda: medicar a tristeza. Consumir antidepressivos, pois a euforia é obrigatória! Pilulas da felicidade!

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe



No entanto demonstrou-se, cientificamente, que ter momentos de tristeza é perfeitamente normal, 95% das pessoas têm a cada ano uma média de 6 baixas do humor ou a possibilidade de tê-la, os 5% restantes têm efetivamente possibilidade! 


Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não



O luto foi definido como o espaço paradigmático por excelência da vivência
e da elaboração de situações de perda e de frustração...

Mas são pessoas normais? Os estados de humor depressivos existem em todos. Mas e o diagnóstico clínico de depressão? É uma doença do humano. Mas como curar sem  fazer desaparecer o sujeito? A caça mundial à depressão implica também numa investigação ao subsolo de cada um e nas emoções mais íntimas. Neste ponto, a Psicanálise se volta para a compreensão dos significados subjetivos do sujeito às situações de perdas difíceis de serem elaboradas. Assim, o luto foi definido como o espaço paradigmático por excelência da vivência e da elaboração de situações de perda e de frustração. O sujeito necessita, muitas vezes, de um recolhimento psíquico para a elaboração de uma frustração e a manifestação de afetos depressivos podem ser compreendidos como necessários. A dificuldade em elaborar perdas e vivenciar um luto está basicamente ligada à melancolia e à depressão. Esta é a contribuição de Freud.


O sujeito necessita, muitas vezes, de um recolhimento psíquico para a elaboração de uma frustração
e a manifestação de afetos depressivos podem ser compreendidos como necessários. A arte pode ser um
espaço para a manifestação destes afetos (grifo meu)

Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não

*
Texto de Jacques-Alain-Miller "Etre bipolaire, c'est tendance" e Vinícius de Moraes "Samba da benção".




segunda-feira, 25 de junho de 2012

Teatro da Praça!

No dia 22 de junho de 2012, às 15:00hs, no Teatro da Praça em Araucária, ocorreram as apresentações das crianças e jovens da Escola Municipal David Carneiro que participaram do Programa Mais Educação. Com o Teatro lotado e muita adrenalina estes jovens atores fizeram o seu melhor!!
Na maquiagem: JuLieta(Alanis), Malvina (Adrimara), Lucrécia(Rafaela), Rosalina(Ingrid), Sra. Capuleto(Amanda) e Assistente de Palco (Manon Veloso de Almeida)
No camarim...Branca de Neve! (Vitória)
A equipe: Jaqueline Neto Moreira, Georgia Gastaldi e a maquiadora Geraldine Marie Gomes

Na sonoplastia Matheus Henrique
Toni Rocha, o diretor da Escola, Municipal David Carneiro


O Fantástico Mistério de Feiurinha: mesa do escritor

Romeu e Julieta: Teobaldo(Willian) e Mercúcio(Enã)
Romeu e Julieta: Cena Final
O Fantástico Mistério de Feiurinha: Escritor(Richardson)
O Fantástico Mistério de Feiurinha: Os pais de Feiurinha (João Henrique e Silvia)
O Fantástico Mistério de Feiurinha: As bruxas Ruim, Malvada e Piorainda(Letícia, Gabiela e Daiane)
O Fantástico Mistério de Feiurinha: Feiurinha(Esther) e Príncipe Encantado (João Victor)
Romeu(Gabriel) e Julieta(Alanis): Cena do Balcão

O Fantástico Mistério de Feiurinha: Rapunzel(Vivian),Cinderela(Tatiane),Branca de Neve(Vitória), Chapeuzinho vermelho(Samara) e Bela (Geovana)




Romeu e Julieta: O baile de Máscaras
Grand Finale


* Fotografias de Tainá Gomes



O Popular publicou...


Subir no palco e sentir a sensação de viver uma outra vida; por um momento, o corpo estremece ao ver a multidão, mas é só dar os primeiros passos e dizer as primeiras palavras que o papel é incorporado e comprova que os tantos ensaios não foram em vão. Foi um pouco disso, junto com muitas outras emoções, que os alunos da Escola Municipal David Carneiro sentiram quando entraram em cena no Teatro da Praça na sexta-feira, dia 25. Depois de meses de ensaio, o grupo apresentou “Romeu e Julieta”, encenado pelos alunos mais novos, enquanto os maiores apresentaram “O Mistério de Feiurinha”.

As aulas de teatro foram possibilitadas através do Programa do Governo Federal, “Mais Educação”, que propõe atividades no contraturno das aulas. Na escola, Inecê Gomes coordena as aulas de teatro desde 2011 e se sente realizada com o projeto e com a evolução de seus alunos: “Essas aulas são muito importantes, essas crianças têm a necessidade e a capacidade de criar cultura. Percebemos muitas diferenças nelas. Muitos não têm incentivo de casa e é necessário passar isso para os pais também. Teve criança que chegou aqui sem saber ler direito, mas por conta dos textos evoluiu nisso, além da concentração, organização, convívio, respeito, postura...”.

Os espetáculos foram um sucesso; com o Teatro lotado por pais e alunos, professores e diretores da Escola, os atores saíram emocionados da apresentação. Conforme contou Inecê, a adaptação e as montagens foram feitas em conjunto. Os alunos queriam uma peça que trouxesse amor, morte e luta, itens que fazem parte de suas realidades. O grupo se divertiu com os ensaios e com a apresentação, botando o lado artístico para funcionar, aumentando ainda mais a capacidade criativa, projetando um futuro melhor. 


quinta-feira, 14 de junho de 2012

Programa Mais Educação: o Teatro invade a Escola Pública



O Programa Mais Educação que integra ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) como estratégia do Governo Federal para induzir a ampliação da jornada escolar e organização curricular, na perspectiva de Educação Integral, desde 2011 está em plena atividade na Escola Municipal David Carneiro,  em AraucáriaNa área de Cultura e Artes, o projeto de Teatro que incluiu também o Teatro de Bonecos ocorre uma vez por semana. 
Em fase de ensaio, crianças e adolescentes participam ativamente das oficinas. "Romeu e Julieta", de Shakespeare, foi a peça escolhida pelas crianças dos anos iniciais que desejavam representar algo que fosse "trágico" e, ao mesmo tempo "bonito e romântico". Amor e ódio, segundo as crianças "fazem parte da nossa vida, assim fica mais fácil representar!".

A partir da iniciativa dos diretores das escolas públicas que aderem aos programas do governo que incluem Cultura e Artes no cotidiano escolar, crianças e adolescentes têm a oportunidade de experienciar diferentes aprendizagens e novas leituras do mundo e de si mesmo.


A arte oferece satisfações substitutivas para as mais antigas e mais profundamente sentidas renúncias culturais, e, por esse motivo, ela serve, como nenhuma outra coisa, para reconciliar o homem com os sacrifícios que tem de fazer em benefício da civilização. Por outro lado, as criações da arte elevam seus sentimentos de identificação, de que toda unidade cultural carece tanto, proporcionando uma ocasião para a partilha de experiências emocionais altamente valorizadas. E quando essas criações retratam as realizações de sua cultura específica e lhe trazem à mente os ideais dela de maneira impressiva, contribuem também para sua satisfação narcísica (FREUD, O futuro de uma ilusão, 1927).
No dia 22 de junho de 2012, às 15:00hs jovens e crianças participantes do Programa Mais Educação irão apresentar os Espetáculos "Romeu e Julieta" e "O Fantástico Mistério de Feiurinha" no Teatro da Praça, em Araucária.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Como criar as crianças segundo Eric Laurent

A criança é confrontada com o fato de que fora da família circulam outros discursos...
Entrevistadora: Atualmente, os novos papéis das mulheres no mercado de trabalho e as inovações produzidas pela ciência, faz alguns anos, levam a cenários impensáveis relativos aos modos de reprodução. O que tem para dizer a psicanálise diante disso?
Eric Laurent: Em todas estas variações ou criações diversas, discursos distintos vão entrar em conflito sobre o que são o pai, ou a mãe, em cada caso. Mas o que vemos é que ninguém quer ter filhos sem pais. É muito evidente, as brigas jurídicas das comunidades gay e lésbicas para serem reconhecidas como pais e mães de filhos, são para poder utilizar os nomes da família. A criança é confrontada com o fato de que fora da família circulam outros discursos. Como então orientar-se, quando, por exemplo, a criança é concebida por fertilização assistida com doador anônimo? Os pequenos na escola lhe dizem: Onde está teu pai? E a criança responde: “Eu não tenho pai”. Como não vai ter um pai? Isso é impossível... E então, como se vai responder e sustentar isso? Como se vai inventar uma solução, um discurso possível? A psicanálise pode, precisamente, nessas circunstâncias ajudar a criança, a mãe, a poderem orientar-se num espaço no qual seja possível usar os termos pai-mãe de uma maneira compatível com o discurso comum.
A psicanálise pode ajudar a criança a orientar-se num espaço no qual seja possível usar os termos pai-mãe de maneira compatível com o discurso comum..
Entrevistadora: Nos momentos de grandes mudanças as crianças são as primeiras vítimas, são os primeiros a sofrer o impacto dessas mudanças. Quais são as questões em jogo para as crianças que estão crescendo?
Eric Laurent: Múltiplas. As formas de patologia do laço social com as crianças e entre as crianças, vêm através das queixas dos que estão a cargo delas, especialmente dos pedagogos, com o papel essencial que agora desempenha a escola na civilização. Não faz muito tempo que a escola tem este papel tão importante para criar as crianças. Antes, a articulação com a religião, a moral, o Estado, o exército, tinham um peso, havia uma variedade de instituições. Cada vez mais se reduz o peso destas para centrar-se na grande instituição escolar, que recolhe as crianças e trata de ordená-las a partir do saber. Uma dificuldade para as crianças de hoje (e o vemos na enorme quantidade de crianças diagnosticadas com déficit de atenção ou hiperatividade), é a de poderem ficar sentadas cinco horas numa escola, o que não acontecia em outras civilizações. O curioso é que parece como uma epidemia o fato de que há mais e mais crianças que não podem renunciar a este gozo do corpo a corpo, das brigas, a agressão física, sem falar da violência desproporcional característica das turmas de adolescentes. Todo este sofrimento funda a idéia de uma patologia da infância e da adolescência. Diz-se que as crianças não suportam as proibições, não toleram as regras.
Há mais e mais crianças que não podem renunciar a este gozo do corpo a corpo, das brigas, da agressão física, sem falar da violência de adolescentes...
Entrevistadora: Poderia esclarecer um pouco mais o que acontece agora nas escolas?
Eric Laurent: Ao impor a educação universal e dizer que todas as crianças têm direitos iguais, ao colocá-las todas no mesmo dispositivo, há patologias que entram dentro deste dispositivo escolar que não estavam lá antes. Por outro lado, com o aumento da precariedade do mundo do trabalho, cada vez mais, pela pressão que existe, as crianças são abandonadas. Antes tinham mães para se ocuparem com elas. Agora a televisão se ocupa. A televisão é como uma medicação, é como dar um hipnótico: fazer dormir... É uma medicação que utilizam, tanto as crianças como os adultos, para ficarem tranquilos diante das bobagens da tela. Mas, a televisão comum a toda a família não é a oração coletiva da tradição, aquela que permitia vincular os membros da família através dos rituais. Quando o único ritual é a televisão, comer diante dela, falar sobre ela ou ficar em silêncio diante desse aparato, isto permite articular pouco esta posição do pai entre proibição e autorização. A escola é, então, precisamente a que articula esta função: os professores aparecem como representantes dos ideais e isto aguça a oposição entre crianças e o dispositivo escolar, transformando as patologias, que não podem se reduzir estritamente a algo biológico nem a algo cultural, na imbricação destas dentro do dispositivo da escola.
A televisão é como uma medicação (...) mas não é a oração coletiva da tradição, aquela que permitia vincular os membros da família através dos rituais...
Entrevistadora: Lewis e Tolkien foram mencionados como duas pessoas que a partir da literatura quiseram propor modelos identificatórios possíveis. Numa época de queda dos ideais, como orientar as crianças nesse sentido?
Eric Laurent: A literatura é sempre uma excelente via para orientar-se. Depois da queda da Primeira Guerra Mundial, da queda dos ideais, os intelectuais estavam preocupados em como se orientar, e orientar a geração que adviria. Alguns escritores explicitamente pensaram em elaborar, com sua obra, uma maneira de proteger as crianças da tentação do niilismo, e orientá-las na cultura e nas dificuldades da civilização, apresentar figuras nas quais o desejo pudesse articular-se num relato. Com O Senhor dos Anéis, Tolkien fez uma tentativa de propor às crianças, aos jovens, uma versão da religião, um discurso sobre o bem e o mal, uma articulação sobre o gozo, os corpos, as transformações do corpo, todos esses mistérios do sexo, do mal, que atravessa uma criança; versões da paternidade. Tolkien conseguiu algo: há muitas crianças para as quais o único discurso que conheceram e que lhes interessa sobre isto é O Senhor dos Anéis nos três episódios. Da mesma maneira, um escritor católico, como C.S. Lewis fez com as Crônicas de Nárnia uma versão da mitologia cristã sobre a abordagem dos temas do bem e do mal, da paternidade, da sexualidade. Graças ao cinema, Tolkien saiu de seus anos trinta, mas para uma geração foi Harry Potter que articula a diferença entre o mundo dos humanos e o mundo ideal dos bruxos, povoado de ameaças, onde o bem e o mal se apresentam como versões do discurso.

Com "O Senhor dos Anéis", Tolkien fez uma tentativa de propor às crianças, aos jovens, uma versão da religião, um discurso sobre o bem e o mal, uma articulação sobre o gozo, os corpos, as transformações do corpo, todos esses mistérios do sexo, do mal, que atravessa a criança...
Entrevistadora: O que podem encontrar as crianças na literatura?
Eric Laurent: Harry Potter foi, para muitas crianças, inclusive as minhas, uma companhia: ir crescendo da infância à adolescência ao longo dos cinco ou seis tomos da história. Ademais, apresentou figuras de identificação muito úteis. Uma criança podia prestar atenção ao que lhe dizia Harry Potter, precisamente, sobre como se articulam o bem e o mal, sobre como devem se comportar na vida e como manejar as aparências e os sentimentos contraditórios que alguém pode conhecer ao mesmo tempo. São ferramentas para salvar as gerações da tentação do niilismo, do pensar que não há nada que valha a pena como discurso. Quando nada vale como discurso, há violência. O único interesse, então, é atacar o outro. A crise dos ideais que se abriu com o fim da Primeira Guerra não se desvaneceu. A que deveríamos prestar atenção? Hoje vemos um chamado a uma nova ordem moral, apoiada no retorno da religião como moral quotidiana. Quando na Europa há violência nos subúrbios, faz-se um chamado aos imãs muçulmanos para que dirijam um discurso de paz aos jovens da imigração. Também aos pais, para tratar de ordenar um pouco o caos engendrado por esses jovens desamparados, que manifestam condutas estritamente autodestrutivas pela desesperança em que estão afundados. Na esfera política, através da famosa oposição entre as questões de temas e valores, vemos que agora o tema é moral. Há uma tendência a pensar que para voltar a obter uma certa calma na civilização, necessita-se multiplicar as proibições, que a tolerância zero é muito importante para restaurar a firmeza da ordem, que as pessoas tenham o temor da lei para lutar contra seus maus costumes. Os analistas, diante desta restauração da lei moral, sabem que toda moral comporta um revés, que é um empuxo superegóico à transgressão. Precisamente, a idéia dos analistas em sua experiência clínica é que sabem que quando a lei se apresenta somente como proibição, inclusive proibição feroz, provoca um empuxo feroz, seja à autodestruição, seja à destruição do outro que vem somente proibir. Há que autorizar aos sujeitos a respeitar-se a si mesmos, não somente a pensar como os que têm que padecer a interdição, senão que podem reconhecer-se na civilização. Isto implica não abandoná-los, falar-lhes mais além da proibição, falar a esses jovens que têm estas dificuldades para que possam suportar uma lei que proíbe, mas que autoriza também outras coisas. Há que falar-lhes de uma maneira tal que não sejam somente sujeitos que têm que entrar nestes discursos de maneira autoritária, porque se fizer isso, vai provocar uma reação forte com sintomas sociais que vão manifestar a presença da morte.
Temos que criar as crianças de uma maneira tal qual logrem apreciar-se a si mesmas, que tenham lugar, e que não seja um lugar de desperdício.
Entrevistadora: Como criar as crianças nesta época?
Eric Laurent: Temos que criar as crianças de uma maneira tal que logrem apreciar-se a si mesmas, que tenham um lugar, e que não seja um lugar de desperdício. Na economia global atual, o único trabalho que pode inscrever-se é um de alta qualificação, ao qual nem sempre vão ter acesso. Não podemos pensar que vamos sair na frente somente com a idéia de que se alguém trabalha bem e tem um diploma, vai encontrar um trabalho. Há crianças que não vão entrar e, apesar disso, têm que ter um lugar na nossa civilização. Não podemos abandoná-las. E este é o desafio mais importante que temos, o dever que nós temos diante delas. Conceber um discurso que possa alojá-los dentro da economia global.

* Por Verônica Rubens. Tradução de Maria Luiza Caldas.
 * Eric Laurent é um dos continuadores do ensino de Jacques Lacan. 
Nota
1. In: La Nación, Edición Impresa
Julho/2007